segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ninguém ganhou à carreira


No cartaz da frente da capela em letras vermelhas e azuis, escrito pela mão do vigário charlava bem assim.:



Bailongo, carpeta na cancha reta, ginetiada,


prova de redomão de vinte um dias, tudo animado


por o grupo De Luna e Guitarra no pátio da igreja.



Na frente da capela o pueblo trabalhava pra montar a lona cedida pelo patrão Joaquim, o palco perto de um pessegueiro da frente da igreja, que pela meia tarde o bailongo ia correr frouxo em vaneras e milongas do pinho do Teles.

Mais ali na frente uns ajeitavam a fita e emparelhavam o chão da cancha reta e ajeitavam também os fardos de alfafa pra fazer a prova de vinte um dias que Don Inácio floreava um potro baio sujo pra reconhecer a cancha, que já tava charlando que ele Don Inácio ia fazer lida bonita e ganhar, mas os potros do Macário também iam fazer bonito.

A tarde foi se chegando com olhos de morena bonita antes da noite gineta, o pueblo se chegando devagar, uns a pé outros, de a cavalo outros de carreta, pra festa na igreja.

Foram se ajeitando os pingos junto a fita de saída da carreira um monte de gente querendo correr e apostar, fue quando o vigário Adelino determinou severo.:



-Só uma! E nada mais!

-Entre o bagual preto do negro, e o baio ruano do Joaquim.



E juiz determinado pelo vigário e bugre João pra não haver intriga depois que cruzar a fita de chegada. E não tinham luz pra ninguém pra ser uma carreira bem parelha entre os dois.

Nisso já apostando o pueblo ao redor da cancha reta gritavam as apostas.



-Mil no baio!

-500 no preto do negro!

- Meu pala de trama!



Outros apostando o florão de prata, as espuelas, pala as botas e uns pilas pouco.

Na linha riscada com cal os dois montados se miravam e charlavam pra ver quem era o melhor na cancha, mas o pueblo nem sabia quem ia ganhar. O juiz vigário mandou se ajeitar ligeiro na linha e pararem de se provocar, que a carreira já ia começar a grito de -UPA PA! Do negro se arrumaram com jeito com as mãos dos pingos bem encima da linha pra não ter confusão o vigário fue verificar.

Verificado passando na frente dos dois indo e vindo se recostou num canto e determinou pra o bugre João com cabeça pra dar o tiro de partida da carreira, que talvez por farra acertou um João de Barro em cima da cruz da capela.

Se largaram os dois numa carreira bem parelha um floreando as esporas e outro um mango pela volta, os dois com a rédea bem frouxa o Joaquim passou um pouco na frente dando um corpo de luz num grito de já ta ganho, mas o negro do preto soltou a boca e emparelhou faltando vinte metros pra cruzar a fita.

Mas fue bem parelha os dois parecendo que estavam paleteando, cruzaram a fita os dois bem juntos pingos focinho com focinho mais parecendo um tiro. Que o vigário gritou erguendo os braços bem pra cima.:



-Empate!



E já mandou o Don Teles salpicar uma milonga, pra se acabar com as carreiras, e ir fazer as outras cosas...



domingo, 26 de junho de 2011

Um chapéu e um colete igual, se deu o erro

O pulpeiro serviu mais uma canha com o mesmo jeito de sempre.


-Mais um copo!

Pediu um paisano que cruzava por ai com tropa de um canto da sala, as chinas dançando pela volta da madrugada. Nisso entra o mulato Jorge arrastando uma chilena de prata ajeitando uma pratiada por entre a rastra e faixa.
Foi até o balcão e pediu uma pura pra espantar o frio um maio ventoso com muita calma mirou uma china pra dançar um pouco. O mulato Jorge mirou uma china de melena cor de sol sentanda num canto, que tomava uma canha com uva com tempo e esperas nos olhos azuis com o céu.
Já foi pra o lado dela num tranco meio de atravessado e ladiado, e pediu uma contra dança com respeito, que a china marina se largou bailando apertado por o meio do povo, que nisso o pulpeiro mirou pra um canto e mirou o Macário vindo e charlou pra Don Inácio que charlava com umas outras comparsas escorado no balcão, que o mulato Jorge iria fazer bem logo peleia, que a china marina era namorada do Macário que por desgoto já eram intrigados de jogo de truco.
Que o mulato Jorge perdeu tudo desde o pingo um baio bueno que tinha até as botas junto com um chiripá colorado.
E corria pela boca dos conhecidos que eles competiam por tudo entre eles, desde carreira até por china desde guri pipeiro e o mulato sempre perdia.
Nisso o Macário saiu como se tivesse vertido do chão da sala, talvez tivesse ido desguá umas canhas ou talvez uns mates do cedo, viu a china e partiu pra cima tomar a china do mulato que bailava apertado, pois se ele bailasse com mais educação e respeito por a china dos outros não dava pelia.
Veio sem pedir porta e nem refuga bolada, apartando os dois com as mãos e sacando de toda folha errando por pouco um talonaço no mulato, que abriu o corpo ligeiro feito a um gato que cai na água.


O pulpeiro gritou.:


-Fedeu o aço!


Don Inácio, o Zé gatão e o Queixo saíram pra apartar enquanto as chinas gritavam e pediam pra parar e os dois peleando por china e canha.
Apartaram cada um pra um lado, que o pulpeiro mandou se retirar dali bem ligeiro com uma espingarda que tem atrás do balcão. Que o mulato em ton de desacato so gritou pra o Macário.:


-Tú, morres e nem vai saber de onde foi o balaço!


-E eu vou ainda no teu velório, cuspi no teu corpo!


O Macário já porta fora muntando e esperando a china marina pelo portal do bolicho, nem charlou só balançou a cabeça...
O mulato marcou o chapéu e o colete do Macário pra matar ele depois em espera pelo campo.
Passou uns dias e o assunto já tinha passado no povo e entre a peonada das estâncias. Foi quando saiu pela boca do povo que o mulato tinha acertado um balaço num ponteiro de tropa que vinha pedir pousada nos campos do patrão Arlindo, patrão do Macário.
Ia cruzando a trote estendido pela frente do bolicho do seu Romualdo e o mulato deu um único tiro e certeiro na testa do ponteiro por confundir com o Macário porque ele usava uma colete e um chapéu igual ao do Macário que tava por casa.
O mulato nem ato de covarde ou talvez de ressabio, vendo que tinha errado um balaço num que nem era dali tentou fugir ajeitando o trinta ainda de cano quente na cinta.
Mas o pulpeiro vendo a cosa calçou na mesma espingarda que apartou a briga antes dos dois e mandou ele ficar bem quieto por ai e largar as armas no chão. Gritou pra uma da chinas chamar os milicos e gordo comissário bem ligeiro, que um sorro, que não sabe confirmar certo as cosas, e matou um que nem sabia da intriga por truco e china.
Num upa chegou a milicada em três mouras enfrenadas por o Macário e o Don Inácio, pra não perder o sorro,que meio atordoado vendo que tinha feito errado tentou fugir dali.
Os milicos ataram nas mãos algemas e prenderam numa corda e puxaram o mulato Jorge na cincha de uma das mouras, que segui arrastando a mesma chilena de prata, aos olhos de todo o povo que juntou pra ver e do Macário que veio ligeiro, que só mirou e pediu por Deus, pra o mulato.
Que só Deus pai lá de “riba” julgasse o mulato.
O ponteiro que era oriental vindo com a tropa pra entregar pra o patrão de Don Inácio que não pode chegar e voltar pra casas, por usar um chapéu e um colete igual a do outro.




domingo, 9 de janeiro de 2011

De luto

Um dia Don Inácio foi até as bocas como costumeiramente fez, se arrumou , ajeitou bem um gateado que enfrenava pra ir. Chegou nas bocas atou o rosilho pelo buçal como sempre numa pitangueira da frente. Pediu uma canha e uma das chinas se chegou, mirando com olhos de carinho pra Don Inácio e perguntou o porque tinha sumido de lá, e por que voltara com lenço negro guardando luto? Don Inácio não querendo tocar no assunto pediu mais uma canha, e charlou em ton forte.:

-É meu o luto, Não é de sua conta!

Ela insistiu mais uma vez a Don Inácio, que já bravo silenciou por um instante e respondeu a mesma cosa.:

-É meu o luto, Não é de sua conta!

Ela deixou quieto, bebendo já a décima canha, mas sabia que o luto dele era por amor perdido e guardava uma aliança com um nome gravado por dentro em uma correntinha por debaixo da camisa.
Don Inácio já oitavado pelas tantas canhas começou a contar a historia depois dela tanto insistir sobre o assunto.

-Nunca goste das estrelas, elas são pra o céu não pra de baixo do chapéu!

-Me encantei por uma morena de sorriso de luna, estreja madrugueira!

-Mas não sabia direito que as estrelas eram só pra o céu!

-Um, um dia me topei com uma delas por ameia tarde, meu cuero tapera se transbordou de amor carinho.

-O sorriso era a própria luna no meus olhos, que me esqueci de tudo, morri depois desse amor.

-Ela era linda e eu um domeiro que perdi ela pra o céu por seres estraja andarilha.

-Ela me levou em seus carinhos e me fez perder por seus braços em seu sorriso de luna.

-Confesso que ainda a amo mesmo agora só mirando largo o céu.

-Mas se acabou, não sei o porque de fato?

-Por isso do meu lenço negro, por isso que aquele rosilho ficou aporreado pelo potreiro, era pra ela.

-Mas agora ela anda pelo cielo largo e da forma mais sotreta perdi ela pra estrejas do cielo.

-Só ficou esse recuerdo, um anel que carrego debaixo do lenço escondido, recoluto perto do peito pra lembra - lá.

-Um amor pra uns só se acaba, mas pra outros se acaba mas deixa rastros e recuerdos buenos e doloridos.


A china só ouvindo ele com os olhos mariados. Don Inácio se perdia charlando de uma estrela madrugueira, a qual foi a única até então que amansou o mais chucro de todos.
A china com olhos rasos só ouvia em silençio enquanto Don Inácio charlava de seu amor perdido. Nisso Don Inácio grita pra o pulpeiro.:

-Mais uma canha! Pra esporear um recuerdo bueno e malino!

A china ficou em silencio vendo como Don Inácio estava, que voltou a contar cobre seu luto.

- Apreendi solito, que as estrelas, são lá pra cima, perdi e agora só recuerdo ficou por isso, o lenço negro, um rosilho chucro no campo com queixo encruado, que já foi domado mas ficou chucro como meu coração.
A china Apertando o braço de Don Inácio só charlou.

-Já é hora de pagar e ir embora!

-As estrelas, podem viver debaixo do chapéu, mas ... algumas são andarilhas.



Ginetinho...