segunda-feira, 3 de novembro de 2014

De Doma

Firmou bem a perna na volta incerta
Pra quem não se governa e desperta
Depois de uma reza terna e certa
Pra se mante sob o lombo que vira
Pelo espaço quase num tombo, se atira.

Polvadeira erguida, lenço se indo pra o ar
Nas esporas rezando um terço, pra não voltear
Por nada, quase me perco mas vai tranquear...
Depois abaixo de espora, voltar com a lua
Talvez com a aurora, num rastro de estrela nua.

Potro que levanta, buscando quase o céu
Pra quem vê se encanta, mas debaixo do chapéu
Sou eu quem sustenta, todo esse escarcéu.
Quando sente pelas botas, o tentos segurando
A vida sob essas patas, pra depois voltar blandiando.

Na imagem que se molda, serena e clara...
Ouço por perto a escolta, seguindo metendo a cara
Pra não deixar na volta mais forte e mais braba
Querendo depois que esse potro, serenatiando
Voltar por rumos desses  do povo, emoldurando.

As imagens de um posto, a beira da linha
Pra quem ainda do sal do rosto, ajeita na trilha
Chamando nos agosto, no corredor as tropilhas
Pra viver dando vasa , pra os bastos apertados

E deixar na ramada e no pasto, um potro de cacho atado.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Mirada

Mirada que me leva adiante
Talvez na tropa do próximo maio
Traga no mesmo baio
De tiro de sorriso no horizonte...

Parecendo que nessa estrada
Que se fazem de chegadas e partidas
Sigo empurrando a vida
Me perdendo por tua mirada...

Entrego pela ronda que pela mãos
Nas cordas que iluminam
E pelas esperas se acalantam
Coplas além da emoção...

Mirada que me leva por reponte
Trazendo a luz que tinha na lua
Numa espera que se desenha tua
Seguindo além do mesmo horizonte...

Busquei nas estradas do tempo
Calejando as mãos na cordas
Das rédeas seguindo na rondas

Vendo teus olhos pelo campo...   

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Copla pra um dia

Na mão que segurava a face
Sem pecado no meu lado
Buscando a luz por teus olhos
Que trazem o rumo pra o costado...

Aceito a distancia por andar
Por descaminhos que sempre
Ficam perto dos teus carinhos
E quem sabe um dia, me espere...

E traga nas cruzes do meu zaino
Não mais tantos rumos de estradas
Buscando na minha alma, um sonho
Quando fiquei pelas ramadas...

Talvez nas minhas mãos quando abro
Essa cordiona e pelas cordas estiradas
Tire da alma a copla que não entreguei
E deixei no vento minha alma enluarada...

Talvez um dia pelas estrada que ando
Traga nos meus olhos os teus ...
Que mesmo andando longe
Sabe dos rumos tão meus...

Abro a minha aura por essa alma
De madeira e canto claro de dia...
Pra te levar um dia por pouco
Meus versos de lua e porfia...

Espero pelas horas e nos dias
Que se vão a buscar caminhos...
Ainda poder apear no teu ranchito

E deixar de andar sozinho...

domingo, 24 de agosto de 2014

Prateada


Venho de longe somente com a força dos braços
Pra lidar com corda e potro tenho e só esta folha  de aço.
Este par de setes dente que carrego nos meus garrões
Pra fazer bom cavalo pra os outros e morar nos galpões
E talvez fazer pingos dos buenos pras os tiros de laço.

Seu bolicheiro lhe pergunto, onde posso me justar?
Algum lugar deve ter alguma potrada pra domar?
Mas fome, nestas distâncias que ando no corredor...
Já vem me pegando as uns dias, me causando ate dor.
Só tenho esta xerenga, de bom corte, pra cambiar...

Tenho fome! Mas não tenho, nenhuma plata.
Venho lá do rincão das lajes sob as patas
Desta tostada cabana, pois ganhei só as estradas.
Depois que vi o fel nos olhos de minha ramada.
Não entendi, ganhei o mundo só com esta faca.

Dizem pela boca do povo que onde ficou os olhos
Que me levaram o sono e machucaram meus sonhos...
Também vertem cristais dos olhos, mirando além do corredor.
Que mal fiz seu bolicheiro, por ser domador?
Somente sai com meus olhos fundos e molhos.

Saltei pelo mundo garrando potros na força do braço.
Mas já faz mais de dias que procuro serviço?
E não acho, então vim te pedir, onde que tem?
Talvez o senhor saiba, de um lugar onde tenha também?
Mas a fome seu bolicheiro, me grita...que tenho só esta folha de aço...

Pra trocar, sou só um ginete! Que anda pelo mundo
Rolando macega, tocando potros como um vira-mundo.
Sem coplas pelos beirões das estradas, dormindo com a lua...
Me acalambrando sonhos de fantasmas de alma nua.
E assim vim rolando por ai, virando a coxilha, somente vindo.

Seu bolicheiro, troca comigo esta faca de bom corte e bom aço?
O cabo e prata entalhada, em flores pra o sentido do braço
Quando o tempo é mais feio pelos rumos desta vida.
Mas a fome me grita em minha barriga, pois ainda procuro lida.
Pelo pó dos corredores já quase sem nenhum viço.

Sim, tu vem teatino garreando esta tostada...
Nos teus planos de lida, na vida já sem nada.
Troco tua xerenga, por hora e sei aonde tem serviço,
Potradas pra tu enfrenar, pela tuas puas de aço.
E quando puder voltar... paga, e te devolvo sua prateada.

Obrigado seu bolicheiro, faz dias que ando por ai assim.
Vou-me atrás, e quando tiver o valor e lhe pago sim,
Este prato de feijão com ovo, que me mata a fome.
Que há muitos dias não durmo, e que ainda me consome
Dentro de min, que já parecia quase não ter mais fim.

Um dia voltei, quatro potros atado um no outro.
As minhas puas de aço cantando pras os astros.
Plata sobrando nos bolso da bombacha nova...
Pilcha buena não a aquela retovada de sova
Das lidas de campo e de corda e de potros.

Entrei com mesmo entono sob as mesmas garras
Pelo portal do bolicho apeando sob a mesma terra
Que entrei em outro dia com fome já sem rumo de vida.
O bolicheiro não me conheceu, por não estar em pilcha de lida
Mas eu vi... minha prateada, guardada bem ali, em uma cristaleira.

Apresentei-me, com o respeito daquele amigo.
Conheceu-me quando a vida estava difícil e me deu abrigo.
Num destino ruim de vida pra quem andou por ai perdido.
Quando dei buenas e já conheceu minha voz sorrindo
Dizendo-me que bem, tudo bueno contigo?

Sei que veio buscar a sua prateada que um dia trocou
Por comida, e sei que ela tua fome matou.
Ela nunca saiu do bolicho ficou ali amostra pra os outros
De um que cruzou com fome sob a cruz dos potros
Carregando a vida, que o corredor que levou.

Mil graçias seu bolicheiro, hoje tenho plata pra lhe pagar.
Aquele prato de comida que um dia tive que trocar
Por minha prateada por culpa da fome e dos destinos.
Veja lá fora, tenho quatro potros que não perdem o tino.
Pagamento já de domas, pra nos já cambiar.

Ajeitei aquele ruano pensado na minha prateada.
Mas tenho plata pra lhe pagar toda esta divida...
Ala pucha faz mais de ano, que cruzei por aqui.
E minha prateada ficas-te sempre ali?
Esperando-me, minha volta pela mesma estrada.

Obrigado meu amigo deus lhe pague com minha gratidão
Se hoje tenho um rancho e um galpão;
Bonito pra enfrenar potro foi por tua ajuda quando vim.
Rolando estradas com a vida que já estava quase no fim.
Mil graçias agradeço a deus pelo senhor, com toda a devoção.

Tu andou teatino, em tempos mais feios pelos caminho
Mas no dia que cruzou por esse bolicho, sozinho.
Tocando aquela tostada cabana, já vi pelo andar
Que procurava o tudo no nada, além das potradas pra domar
Um rumo pra vida, que agora segue no seu trilho.

Enfenando ao longo do tempo, tanto potros...
Se fez domador pra fazer pingo pra os outros
E a prateada ficou ali bem guardada a mostra pra tantos
Que me perguntaram o preço, mas voltou pra esses campos
Com a mesma luz que chegou nos olhos, dos astros.

Obrigado, meu amigo que o tempo lhe pague por isso
Me ajudou, e guardou minha xerenga, e agora
Me salta este sorriso no rosto, por saber...
Que por tanto tempo guardou minha prateada, pra agora ver
Quando voltei pela mesma porta, com todo o viço.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Amanhecer

 
Me pergunto... todo dia antes do sol
Vendo ainda todas as luzes dos arrebol.
Onde andará quem um dia tive perto?
Tive sonhos de lua e vida, por certo...

Não sei... por nada onde ficou.
Esta copla de meus recuerdos desenhou.
Busco ainda deixando, querendo
Assim pelos meus olhos vou revendo.

Deixo pela luz de mais um amanhecer
Num rezo, querendo por culpa saber
Então depois dos mates fico de olhos inertes
Pelos caminhos cuidando com esperas.

Então deixo, segredos mais puros e vivos
Juyando mais um mate, antes dos estribos
Firmando o corpo campo afora...
Depois de empurrar ausências pelas auroras

Que ainda vem repletas de imagens claras
Rondando antes do sol, já se tornando raras
Sem saber mais um bem querer, pelas luzes

Que surgem, e empeçam pelos corredores.